slide 1 - capa
slide 2 - o que foi filosofia patristica
slide 3 - contexto histórico
slide 4 - os pais da igreja
slide 5 - santo agostinho de hipona
slide 6 - patristica pré agostinina
slide 7 - século II
slide 8 - seculo III
slide 9 - século IV
slide 10 - patrística agostinina
slide 11 - o pensamento - a gnosiologias
slide 12 - a metafisica de agostinho
slide 13 - a moral
slide 14 - o mal
slide 15 - a história
slide 16 - linha do tempo
slide 17 - conclusão
slide 18 - equipe
slide 19 - referências
Slide 2 - O QUE FOI A FILOSOFIA PATRÍSTICA?
WIKIPEDIA : Patrística é o nome dado à filosofia cristã dos
primeiros sete séculos, elaborada pelos Padres ou Pais da Igreja, os primeiros
teóricos —- daí "Patrística" — e consiste na elaboração doutrinal das
verdades de fé do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e
contra as heresias. Foram os pais da Igreja responsáveis por confirmar e
defender a fé, a liturgia, a disciplina, criar os costumes e decidir os rumos
da Igreja, ao longo dos sete primeiros séculos do cristianismo. É a patrística
que, basicamente, a filosofia responsável pela elucidação progressiva dos
dogmas cristãos e pelo que se chama hoje de Tradição Católica.
Blog FILOSOFIA E AFINS : Inicia-se com as Epístolas de São
Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, quando teve início a
Filosofia medieval. A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos
intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a
nova religião - o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e
romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da
nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à
tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os
ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patrística
grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de
Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras,
Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João
Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, SANTO AGOSTINHO, Beda e Boécio. A patrística
foi obrigada a introduzir idéias desconhecidas para os filósofos greco-romanos:
a idéia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de
encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição
dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já
que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Introduziu,
sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a idéia de "homem interior",
isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna
responsável pela existência do mal no mundo. Para impor as idéias cristãs, os
Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus . Por serem
decretos divinos, seriam DOGMAS, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Dessa
forma, o grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de
conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais:
1. Os que julgavam fé
e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: "Creio
").
2. Os que julgavam fé
e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: "Creio
para compreender").
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas
afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem
misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens
no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna
futura).
SLIDE 3 – CONTEXTO HISTÓRICO
SLIDE 4 – OS PAIS DA IGREJA
SLIDE 5 - SANTO AGOSTINHO DE HIPONA
Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de
Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na
filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da filosofia metafísica cristã,
Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Agostinho, pela
profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o
caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística
latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os
problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação.
Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Numídia, de
uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patrício, era pagão,
recebido o batismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mônica, pelo contrário, era
uma cristã fervorosa, e exercia sobre o filho uma notável influência religiosa.
Indo para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria,
desviou-se moralmente. Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é
uma das maiores conseqüências do pecado original; dominou-o longamente, moral e
intelectualmente, fazendo com que aderisse ao maniqueísmo, que atribuía
realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo
maniqueu a solução do problema do mal e, por conseqüência, uma justificação da
sua vida. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu
para Roma e, em seguida, para Milão. Afastou-se definitivamente do ensino em
386, aos trinta e dois anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões de
ordem espiritual. Entrementes - depois de maduro exame crítico - abandonara o
maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatônica que lhe ensinou a
espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Destarte chegara a uma
concepção cristã da vida - no começo do ano 386. Entretanto a conversão moral
demorou ainda, por razões de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração do
céu, sobreveio a conversão moral e absoluta, no mês de setembro do ano 386.
Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se,
durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do
filho e de alguns discípulos, perto de Milão. Aí escreveu seus diálogos filosóficos,
e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio,
recebeu o batismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e
eloqüência muito contribuíram para a sua conversão. Tinha trinta e três anos de
idade. Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em
Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro
entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas.
Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona
até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos vândalos, a 28 de
agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade. Após a sua conversão,
Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia
revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as
filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são,
sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os acadêmicos, Da vida beata, Os
solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o
mestre, Sobre a música. Interessam também à filosofia os escritos contra os
maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da
natureza do bem. Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a
teologia andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras
teológicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religião, As Confissões,
A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira.
SLIDE 6,7,8,9 – PATRISTICA PRÉ AGOSTININA
CARACTERÍSTICAS
GERAIS: Com o nome de patrística entende-se o período do pensamento cristão
que se seguiu à época neotestamentária, e chega até ao começo da Escolástica:
isto é, os séculos II-VIII da era vulgar. Este período da cultura cristã é
designado com o nome de Patrística, porquanto representa o pensamento dos
Padres da Igreja, que são os construtores da teologia católica, guias, mestres
da doutrina cristã. Portanto, se a Patrística interessa sumamente à história do
dogma, interessa assaz menos à história, em que terá importância fundamental a
Escolástica. A Patrística é contemporânea do último período do pensamento
grego, o período religioso, com o qual tem fecundo contato, entretanto dele
diferenciado-se profundamente, sobretudo como o teísmo se diferencia do
panteísmo. E é também contemporâneo do império romano, com o qual também
polemiza, e que terminará por se cristianizar depois de Constantino. Dada a
culminante grandeza de Agostinho, a Patrística será dividida em três períodos:
antes de Agostinho, período em que, filosoficamente, interessam especialmente
os chamados apologistas e os padres alexandrinos; Agostinho, que merece um
desenvolvimento à parte, visto ser o maior dos Padres; depois de Agostinho vem
o período que, logo após a sistematização, representa a decadência da
Patrística.
O II Século
Os Apologistas e os
Controvertistas
A Patrística do II século é caracterizada pela
defesa que faz do cristianismo contra o paganismo, o hebraísmo e as heresias.
Os padres deste período podem-se dividir em três grupos: os chamados padres
apostólicos, os apologistas e os controversistas. Interessam-nos
particularmente os segundos, pela defesa racional do cristianismo contra o
paganismo; ao passo que os primeiros e os últimos têm uma importância
religiosa, dogmática, no âmbito do próprio cristianismo.
Chamam-se apostólicos os escritos não canônicos,
que nos legaram as duas primeiras gerações cristãs, desde o fim do primeiro
século até a metade do segundo. Seus autores, quando conhecidos, recebem o
apelido de padres apostólicos, porquanto floresceram no templo dos Apóstolos,
ou os conheceram diretamente, ou foram discípulos imediatos deles.
Costuma-se designar como o nome de apologistas os
escritores cristãos dos fins do segundo século, que procuram de um lado
demonstrar a inocência dos cristãos para obter em favor deles a tolerância das
autoridades públicas; e provar do outro lado o valor da religião cristã para
lhe granjear discípulos. Seus escritos, portanto, são, por vezes, apologias
propriamente ditas, por vezes, obras de controvérsia, às vezes, teses. E são
dirigidas às vezes contra os pagãos, outras vezes contra os hebreus. Os
apologistas, mais cultos do que os padres apostólicos, freqüentemente são
filósofos - por exemplo, São Justino Mártir - ainda que não apresentem uma unidade
sistemática; continuam filósofos também depois da conversão, e se esforçam por
defender a fé mediante a filosofia. Para bem compreendê-lo, é mister lembrar
que o escopo por eles visado era, sobretudo, por em focos os pontos de contato
existentes entre o cristianismo e a razão, entre o cristianismo e a filosofia.
E apresentavam o cristianismo como uma sabedoria, aliás, como a sabedoria mais
perfeita, para levarem, gradualmente, até à conversão os pagãos.
O maior dos
apologistas é certamente São Justino. Flávio Justino Mártir nasceu em Siquém na
Palestina em princípios do segundo século, e morreu mártir no ano 170. Depois
de Ter peregrinado pelas mais diversas escolas filosóficas - peripatética,
estóica, pitagórica - em busca da verdade para a solução do problema da vida,
abandonando o platonismo, último estádio da sua peregrinação filosófica, entrou
no cristianismo, onde encontrou a paz. Ufana-se ele de ser filósofo e cristão;
leigo embora, Justino dedicou sua vida à difusão e ao ensino do cristianismo.
Imitando os filósofos, abriu em Roma uma escola para o ensino da doutrina
cristã. Suas obras são duas Apologias - contra os pagãos - e um Diálogo com o
judeu Trifão - contra os hebreus. Escreveu suas obras nos meados do segundo
século. Justino procura a unidade, a conciliação entre paganismo e
cristianismo, entre filosofia e revelação. E julga achá-la, primeiro, na crença
de que os filósofos clássicos - especialmente Platão - dependem de Moisés e dos
profetas, depois da doutrina famosa dos germes do Verbo, encarnado pessoalmente
em Cristo, mas difundidos mais ou menos em todos os filósofos antigos.
O III Século:
Os Alexandrinos e os Africanos
O terceiro século
apresenta um interesse particular pelo que diz respeito ao pensamento cristão.
Tentou-se um renovamento do paganismo com bases no panteísmo neoplatônico e nos
cultos orientais, fundidos numa característica síntese filosófico-religiosa em
oposição ao cristianismo, que já ia afirmando mesmo culturalmente. Os Padres
deste período polemizam filosoficamente com os pensadores pagãos, levados a
estimarem seus adversários.
O cristianismo, sem
mudar a sua fisionomia original, está em condições de desenvolver do seu seio
um pensamento, uma filosofia, uma teologia, que representarão a sua essência
doutrinal. Daí a distinção que então se afirmou entre os simples fiéis e os
gnósticos - sábios - cristãos. Este gnosticismo cristão se afirmou
especialmente em Alexandria do Egito, o grande centro cultural da época, mesmo
do ponto de vista católico. Naquele famoso didascaléion, naquela celebrizada
escola catequética, espécie de faculdade teológica, foram luminares Clemente e
Orígenes.
O cristianismo
filosófico é próprio e característico dos padres alexandrinos, que vivem na
tradição cultural helenista, enaltecedora e potenciadora dos valores intelectuais,
teoréticos, especulativos, metafísicos, dos quais teremos, em tempo oportuno, o
primeiro sistema orgânico de teologia cristã, graças a Orígenes. É, entretanto,
hostilizado pelos padres chamados africanos, pertencentes não à África
oriental, ao Egito, mas África ocidental, latina, que se ressentem, por
conseguinte, do espírito prático, pragmatista, jurídico, moralista latino - que
produziu os estóicos e os cínicos romanos - em oposição ao gênio grego. Se bem
que entres os padres africano-latinos apareçam vulto notáveis, como por exemplo
Tertuliano, os padres africanos - bem como os padres latinos em geral - não
apresentam interesse particular para a história da filosofia.
CLEMENTE
DE ALEXANDRIA - http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/clemente-alexandria-defesa-filosofia-na-religiao-crista.htm
- nasceu no ano 150, provavelmente em Atenas, de família pagã. Converteu-se ao
cristianismo talvez levado por exigências filosóficas; desejoso de um
conhecimento mais profundo do cristianismo, empreendeu uma série de viagens em
busca de mestres cristãos. Depois de ter visitado a Magna Grécia, a Síria e a
Palestina, foi, pelo ano 180, para Alexandria do Egito, onde o seu espírito
achou finalmente paz junto do eminente mestre Panteno. Falecido este no ano
200, Clemente foi chamado para dirigir a famosa escola catequética, cabendo-lhe
a glória de ter o grande Orígines entre seus discípulos. Devido às perseguições
anticristãs do imperador Setímio Severo, que mandou fechar a escola, Clemente
teve de suspender o seu ensino alguns anos depois. Retirou-se para a Ásia Menor,
junto de um seu antigo discípulo, o bispo Alexandre de Capadócia, e morreu
nessa cidade entre 211 e 216.
Embora as
preocupações de Clemente sejam sobretudo morais e pedagógicas, e os meios
empregados, satisfatoriamente, religiosos e cristãos sobretudo, valoriza ele
também, e grandemente, a filosofia, à maneira de Justino, sendo ademais dotado
de uma erudição prodigiosa e de uma cultura incomparável. As obras principais
de Clemente são: o Protréptico - isto é, o Verbo promotor da vida cristã -
pequena apologia em doze capítulos, perfeitamente acabada na forma e no
conteúdo; o Pedagogo, em três livros, apresentado no primeiro o Verbo como
educador das almas, e indicando nos demais dois livros os vícios mais graves,
que os cristãos devem evitar; os Strômata - tapetes - que é uma coleção de
pensamentos, considerações, dissertações filosóficas, morais e religiosas, de
interesse especialmente ético.
Filosoficamente
importante e característica é a distinção que faz Clemente dos cristãos em
simples fiéis e gnósticos, isto é, sábios, perfeitos. O gnóstico cristão,
diversamente do simples fiel ou crente, é consciente de sua fé, justificando-a
e organizando-a racionalmente, filosoficamente. "Querendo harmonizar a
doutrina cristã com a filosofia pagã, acentuava demasiadamente a última,
negligenciando um tanto a Sagrada Escritura e a Tradição".
Discípulo de
Clemente, Orígenes, chamado adamantino por sua energia incomparável, é o maior
expoente filosófico da escola alexandrina. Nasceu em Alexandria do Egito, pelo
ano 185, de família cristã. O precoce menino recebeu do pai, Leônidas, a
primeira formação literária e, sobretudo, religiosa. Durante a perseguição de
Septímio Severo, Orígenes, desprezando os mais graves perigos, foi encarregado
pelo bispo de Alexandria, Demétrio, da direção da famosa escola didascaléion,
que o seu mestre Clemente teve que abandonar. Tinha então Orígenes dezoito
anos. Aos vinte e cinco, sentindo a necessidade de conhecer profundamente as
doutrinas que desejava combater e querendo completar a sua formação, escutou -
como Plotino - as lições de Amônio Saca. Empreendeu então longas viagens para
se instruir, sobretudo, religiosamente, e para atender aos desejos de grandes
personagens que queriam consultá-lo. Ordenado sacerdote no ano 230 pelos bispos
de Cesaréia e de Jerusalém, contra a vontade de seu bispo, de volta à pátria,
foi proibido por este de ensinar e foi condenado, devido também a algumas
opiniões heterodoxas contidas na sua grande obra Sobre os Princípios, e também
por ciúme, talvez, no dizer de São Jerônimo. Retirou-se então Orígenes para a
Palestina, abrindo em Cesaréia uma escola teológica chamada depois
neo-alexandrina -, que superou a de Alexandria pelo seu caráter científico. Aí
lecionou ainda durante vinte anos, falecendo em Tiro pelo ano 254.
A atividade
literária de Orígenes não conhece igual, atribuindo-se-lhe milhares de obras.
Prescindindo dos escritos exegéticos e as céticos, que não nos interessam,
mencionamos a obra Sobre os Princípios e os oito livros Contra Celso. Por princípios
Orígenes entende os artigos principais do ensino da Igreja, e as verdades
primordiais deduzidas mediante a razão teológica das premissas reveladas, por
falta de revelação formal. A obra Sobre os Princípios nos proporciona a ciência
baseada na Revelação, e representa uma suma teológica verdadeira e própria.
Representa, talvez, a primeira grande síntese doutrinal da Igreja, segundo a
tendência metafísica dos doutores orientais. Granjeou ao autor grande nomeada e
contém o origenismo, que depois suscitou a grande polêmica origenista. A obra
Contra Celso é a mais célebre de Orígenes sob o aspecto apologético. É uma
resposta à obra Sermão Verdadeiro de Celso, filósofo pagão. Antes de tudo,
declara Orígenes que a melhor apologia do cristianismo é constituída pela
vitalidade divina da Igreja, isto é, pela sua força e virtude para a reforma
moral dos homens e pela sua difusão universal, apesar dos ataques dos
adversários. A maior parte do escrito é, todavia, dedicada ao exame atento e
pormenorizado das profecias, dos milagres e das afirmações solenes de Cristo,
visto que Celso, que tinha estudado as fontes do cristianismo, o ataca em todos
os pontos. Nesta obra, Orígenes ostenta uma erudição extraordinária, uma
serenidade nobre e inigualável, bem como uma fé inabalável. Orígenes pode ser
considerado o verdadeiro fundador da teologia científica, bem como o primeiro
sistematizador do pensamento cristão em uma vasta síntese filosófica.
O IV Século:
Os Luminares de Capadócia
O século quarto, especialmente a Segunda
metade, representa a idade de ouro da Patrística. Basta lembrar, para a igreja
oriental, Atanásio, o malho do arianismo, os luminares de Capadócia - Basílio,
Gregório Nazianzeno e Gregório de Nissa -, e João Crisóstomo, o mais celebrado
representante da escola de Antioquia; para a igreja ocidental, Ambrósio de
Milão e Jerônimo. Os padres dessa época se exprimem em aprimorada forma
clássica e possuem uma profunda cultura filosófica. Os maiores dentre eles são
solidamente formados na solidão monástica e ascética e pertencem, geralmente,
às altas classes sociais. A igreja católica, declarada livre pelo Edito de
Milão, protegida por Constantino, torna-se religião do estado com Teodósio.
Estas condições de paz e de privilégio eram, certamente, favoráveis à cultura
cristã.
Entretanto, a
grandeza da Patrística, no quarto século, não é tanto científica, quanto
dogmática, teológica. A teologia, sobretudo graças aos luminares de Capadócia,
torna-se uma construção intelectual sistemática, imponente, devido naturalmente
à filosofia, à lógica aristotélica, que proporcionam o instrumento, o método,
para a precisão e a organização do dogma. As grandes heresias da época
obrigaram os padres a defender racionalmente, filosoficamente, a doutrina
católica, atacada especialmente por Ário (256-336), padre alexandrino oriundo
da Líbia, negador da divindade do Verbo. A heresia ariana - arianismo - foi
condenada pelo concílio de Nicéia (325), sendo Atanásio o mais destacado e
forte opositor.
São João
Crisóstomo, de Antioquia, nasceu de família ilustre, pelo ano 344. Recebeu uma
educação clássica aprimorada, estudando retórica, filosofia, direito, que,
depois de batizado, valorizou cristãmente na solidão e no ascetismo. Padre em
Antioquia, e depois bispo de Constantinopla, faleceu, degredado pela fé, em
407. É significativo neste grande prelado o senso profundo da vaidade do mundo,
e a grande estima do cristianismo, concebido como ascética.
Também os grandes
representantes da escola neo-alexandrina, os luminares de Capadócia, foram
grandes testemunhas do caráter fundamentalmente ascético do Cristianismo. São
Basílio, nascido em Cesaréia de Capadócia pelo ano de 330 de família rica e
cristã, fez longos e aprofundados estudos, aperfeiçoando-se em Atenas. Recebido
o batismo, abandona o mundo e se retira para a vida ascética, organizando a
vida solitária dos que o seguiram, e escrevendo uma Grande Regra e uma Pequena
Regra, para a vida monástica, em que a atividade dos monges é distribuída entre
o trabalho, o estudo, a oração, pelo que será considerado o legislador do
monaquismo oriental. Trata-se, porém, de regras morais, e não jurídicas
destinadas a um monaquismo culto, aristocrático. Grande admirador de Orígenes,
insigne promotor da beneficência cristã quando bispo de Cesaréia, e organizador
da vida monástica na Capadócia, faleceu em 379. Também São Gregório, chamado
Nizianzeno, nasceu pelo ano 330 em Capadócia, de família cristã, fez estudos
aprofundados, que aperfeiçoou em Atenas. Também ele admirou e praticou a vida
ascética com o amigo Basílio, compartilhando com ele a admiração para com
Orígenes. Bispo de Sásima antes e, em seguida, de Constantinopla, inflamou os
fiéis com a sua pregação brilhante e comovedora. Aristocrático e delicado,
pouco afeito à vida prática, retirou-se depois para a solidão, em conformidade
com o seu ideal ascético e contemplativo, falecendo pelo ano 390.
São Gregório de
Nissa foi o maior dos luminares de Capadócia e, talvez, de todos os padres
gregos sob o aspecto especulativo e filosófico. Irmão de Basílio, nasceu pelo
ano 355 em Cesaréia e recebida uma informação cultural aprimorada, foi
destinado ao estado eclesiástico; entretanto, deixou-se desviar da sua vocação,
foi professor de retórica e casou-se. As exortações do irmão e de Gregório
Nazianzeno persuadiram-no da vaidade do mundo, até que afinal, abandonando a
cátedra de retórica, retirou-se para a vida ascética contemplativa. Em seguida,
foi feito bispo de Nissa, cidadezinha da Capadócia, primando pela sua cultura
teológica e filosófica. Faleceu, provavelmente, em 395. Gregório de Nissa é o
maior filósofo dos padres gregos. Esforça-se para mostrar que os dados da razão
e os ensinamentos da fé não se hostilizam, mas se harmonizam reciprocamente.
Possui, como verdadeiro filósofo, o gosto das definições claras e das
classificações metódicas. Como em teologia é origenista, em filosofia é
neoplatônico.
NEOPLATONISMO : O neoplatonismo
pode ser considerado como o último e supremo esforço do pensamento clássico
para resolver o problema filosófico, que tinha encontrado um obstáculo
intransponível no dualismo e racionalismo gregos - dualismo e racionalismo que
nem sequer o gênio sintético e profundo de Aristóteles conseguiu superar. O
neoplatonismo julga poder superar o dualismo, mediante o monismo estóico, na
qual o aristotelismo fornece sobretudo os quadros lógicos; e julga poder
superar, completar, integrar a filosofia mediante a religião, o racionalismo
grego mediante o misticismo oriental, proporcionando o racionalismo grego
especialmente a forma, e o misticismo oriental o conteúdo.
Será acentuado o
dualismo platônico entre sensível e inteligível, entre matéria e espírito,
entre finito e infinito, entre o mundo e Deus: primeiro, identificando, por um
lado, a matéria com o mal, e elevando, por outro lado, o vértice da realidade
inteligível ao suprainteligível e, em segundo lugar, elaborando uma moral
ascética e mística, em relação com tal metafísica, a qual, todavia, se
esforçará por unificar os pólos opostos da realidade, fazendo com que da
substância do Absoluto seja gerado todo o universo até a matéria obscura.
A filosofia antiga,
em seu último período, não tem mais sua capital tradicional em Atenas, cidade
grega por excelência. O centro do pensamento então se estabelece em Alexandria,
cidade cosmopolita na qual vivem egípcios, judeus, gregos e romanos. É o local
privilegiado de todos os intercâmbios, particularmente os intelectuais. A
cidade é povoada de pensadores que dispõem de uma admirável biblioteca.
Isto nos ajuda a
compreender o caráter sincrético, ou sintético, da filosofia neoplatônica. O
racionalismo lúcido dos gregos se une - numa síntese muito original - aos fervores
do misticismo oriental. Apesar das denegações dos céticos e da propaganda
materialista dos epicuristas, nunca os homens foram tão famintos de Deus quanto
nessa época. As religiões de salvação, o culto de Mitra, de Ísis, então se
desenvolvem. O cristianismo tomará impulso. Preocupações filosóficas e
religiosas se unem estreitamente. Os filósofos, além da verdade suprema, buscam
a salvação. Os homens piedosos querem fundamentar suas crenças filosoficamente.
Tal é a atmosfera que vamos encontrar envolvendo tanto Filon de Alexandria,
quanto Plutarco ou Plotino.
SLIDE 10 –
PATRISTICA AGOSTININA
SLIDE 11 –
GNOSIOLOGIA
O
Pensamento - A Gnosiologia: Agostinho
considera a filosofia praticamente, platonicamente, como solucionadora do
problema da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução integral. Todo
o seu interesse central está, portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da
alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução
integral do problema da vida.
O problema
gnosiológico é profundamente sentido por Agostinho, que o resolve, superando o
ceticismo acadêmico mediante o iluminismo platônico. Inicialmente, ele
conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma
verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade particular.
Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao
conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto,
são fontes de conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da
coisa, é necessária a luz física, do mesmo modo, para o conhecimento
intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta vem de Deus, é a Verdade
de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias platônicas. No
Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os
princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos
as verdades eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a
nós participada pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo,
da reminiscência platônica, em sentido teísta e cristão. Permanece, porém, a
característica fundamental, que distingue a gnosiologia platônica da
aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não
bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças
naturais do espírito, mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.
.
SLIDE 12,13 e 14 –
A METAFISICA DE AGOSTINHO, O MAL e A HISTORIA
A Metafísica: Em
relação com esta gnosiologia, e dependente dela, a existência de Deus é
provada, fundamentalmente, a priori, enquanto no espírito humano haveria uma
presença particular de Deus. Ao lado desta prova a priori, não nega Agostinho
as provas a posteriori da existência de Deus, em especial a que se afirma sobre
a mudança e a imperfeição de todas as coisas. Quanto à natureza de Deus,
Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é poder racional
infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que era
excluído pelo platonismo. Deus é ainda ser, saber, amor. Quanto, enfim, às
relações com o mundo, Deus é concebido exatamente como livre criador. No
pensamento clássico grego, tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento
cristão - agostiniano - temos ainda um dualismo, porém moral, pelo pecado dos
espíritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo
o mundo a Deus. No cristianismo, o mal é, metafisicamente, negação, privação;
moralmente, porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante de Deus. O
problema que Agostinho tratou, em especial, é o das relações entre Deus e o
tempo. Deus não é no tempo, o qual é uma criatura de Deus: o tempo começa com a
criação. Antes da criação não há tempo, dependendo o tempo da existência de
coisas que vem-a-ser e são, portanto, criadas.
Também a psicologia
agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo cristão. Por certo, o corpo não
é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, sendo
criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma
é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo não formam aquela unidade
metafísica, substancial, como na concepção aristotélico-tomista, em virtude da
doutrina da forma e da matéria. A alma nasce com o indivíduo humano e,
absolutamente, é uma específica criatura divina, como todas as demais.
Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo,
isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da alma dos pais.
Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois,
distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas
afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina
em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade.
No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego
apetite.
Quanto à
cosmologia, pouco temos a dizer. Como já mais acima se salientou, a natureza
não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, preso pelos problemas
éticos, religiosos, Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa doutrina dos
germes específicos dos seres - rationes seminales. Deus, a princípio, criou
alguns seres já completamente realizados; de outros criou as causas que, mais
tarde, desenvolvendo-se, deram origem às existências dos seres específicos.
Esta concepção nada tem que ver com o moderno evolucionismo, como alguns
erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das espécies,
negada pelo moderno evolucionismo.
A Moral:
Evidentemente, a moral agostiniana é teísta e cristã e, logo, transcendente e
ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a
primazia do prático, da ação - própria do pensamento latino -, contrariamente
ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A
vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante,
Agostinho tem também atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que
Deus, fim último das criaturas, é possuído por um ato de inteligência. A
virtude não é uma ordem de razão, hábito conforme à razão, como dizia
Aristóteles, mas uma ordem do amor.
Entretanto a
vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir
desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar
não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não
tem realidade metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da
sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si
mesma, determinando a dilaceração da sua natureza. A fórmula agostiniana em
torno da liberdade em Adão - antes do pecado original - é: poder não pecar;
depois do pecado original é: não poder não pecar; nos bem-aventurados será: não
poder pecar. A vontade humana, portanto, já é impotente sem a graça. O problema
da graça - que tanto preocupa Agostinho - tem, além de um interesse teológico,
também um interesse filosófico, porquanto se trata de conciliar a causalidade
absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem. Como é sabido, Agostinho, para
salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo.
Quanto à família,
Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato superior ao matrimônio; se
o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem
do tempo para a eternidade. Quanto à política, ele tem uma concepção negativa
da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o
Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo,
e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do
pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não
pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é
corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a
conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.
O Mal: Agostinho
foi profundamente impressionado pelo problema do mal - de que dá uma vasta e
viva fenomenologia. Foi também longamente desviado pela solução dualista dos
maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da
possibilidade da vida moral. A solução deste problema por ele achada foi a sua
libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma
diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de
tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser,
como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo ser
que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim
chamado mal metafísico, que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres
o lhes é devido por natureza. Quanto ao mal físico, que atinge também a
perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho
argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a
harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos afortunada da doutrina
agostiniana do mal.
Quanto ao mal
moral, finalmente existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela,
porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser. Este não-ser
pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro
ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado
original e atual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento, físico e
moral, além de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. Como se vê, o
mal físico tem, deste modo, uma outra explicação mais profunda. Remediou este
mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade os dons
sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o
sofrimento, conseqüência do pecado, como meio de purificação e expiação. E a
explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas conseqüências - estaria
no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não
permitir o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o
mal é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido
(mal metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se
o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é
estética para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral
(e físico).
A História: Como é
notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus, e resolve-o
ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade
de Deus representa, talvez, o maior monumento da Antigüidade cristã e,
certamente, a obra prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica
original do cristianismo, que é uma visão orgânica e inteligível da história
humana. O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência,
que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é, por sua vez,
necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade. O
conceito de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do
basilar dualismo metafísico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o
plano da história, é mister a Redenção, graças aos quais é explicado o enigma
da existência do mal no mundo e a sua função. Cristo tornara-se o centro
sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus, é representada pelo
povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de seu
advento. Contra este cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica, que
será absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos.
Agostinho distingue
em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira concerne à
história das duas cidades, após o pecado original, até que ficaram confundidas
em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a
separação. Na Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus,
recolhida e configurada em Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em
separado, a narrativa do ponto em que começa a história da Cidade de Deus
separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e separadamente da Cidade
do mundo, que culmina no império romano. Esta história, pois, fragmentária e
dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no
fundo, uma unidade e um progresso. É o progresso para Cristo, sempre mais
claramente, conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e
profetizado também, a seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou
inconscientemente, lhe preparavam diretamente o caminho. Depois de Cristo cessa
a divisão política entre as duas cidades; elas se confundem como nos primeiros
tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais união
caótica, mas configurada na unidade da Igreja. Esta não é limitada por nenhuma
divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade
dos homens e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível,
invisivelmente, também às almas de boa vontade que, exteriormente, dela não
podem participar. A Igreja transcende, ainda, os confins do mundo terreno, além
do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto que todos, predestinados e
ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja - ainda que só na
unidade dialética das duas cidades, para o triunfo da Cidade de Deus - a
divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos
tempos, depois da morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno. É
uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas
teológica: é uma teologia, não uma filosofia da história.
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